Covid-19: Relato de um camionista marcoense em plena crise pandémica [C/AUDIO]

FranciscoSousa1_2020.03.23

Francisco Sousa é camionista, natural de Paços de Gaiolo, Marco de Canaveses. Nesta crise pandémica são homens como ele, atrás de um volante, que permitem que nada nos falte em casa e nos supermercados.

Francisco Sousa é camionista há vários anos e garante que nunca viu “uma situação igual”. Ainda assim, não pode parar. Há que abastecer as bases das grandes superfícies comercias com “todo o tipo de produtos alimentares, como leite, óleo ou arroz”.

Ser camionista é um trabalho exigente, mas nos últimos tempos as dificuldades são maiores. A falta de condições acentuou-se por causa da Covid-19.

“Nas áreas de serviço estão nos vetadas as casas de banho. Numa superfície comercial aconteceu-me o mesmo. Na França, por exemplo, colocaram wc’s para os camionistas tomarem duche e para fazerem as suas necessidades, mas aqui não”, explica.

“Eu tenho consciência que ir às casas de banho públicas é um risco que corremos. Mas acho que arranjando forma de as desinfetar podíamos utilizá-las. Essa é uma das maiores dificuldades, porque era importante para fazermos a nossa higiene pessoal”, confessa.

Francisco Sousa tem percorrido várias estradas de Portugal e de Espanha. Admite que, nesta altura, a sua profissão “é de risco”. O medo está sempre presente.

“Eu sempre considerei que esta era uma profissão de risco. Quando eu comecei a trabalhar neste ramo fiz Itália e tinha receio por causa dos assaltos. Isso fez-me perder o sono muitas vezes, mas estes dias têm sido mais difíceis”, reconhece.

Com receio de ser infetado com o coronavírus, o camionista assegura que mede a febre “várias vezes ao dia”, mas lamenta que “colegas ainda levam isto um pouco na brincadeira e que ainda não queiram acatar as medidas impostas”.

No final de cada jornada, quando regressa a casa, a preocupação é maior, com a incerteza de poder inadvertidamente contagiar a família, sobretudo a esposa que integra o grupo de risco “por ser hipertensa e diabética”.

Satisfeito com o reconhecimento da sociedade, que tem homenageado principalmente os profissionais de saúde, Francisco Sousa não deixa de lamentar alguma falta de atenção para o trabalho desenvolvido pelo camionistas. Sem eles, garante, “o país estaria parado”.

“Vi uma publicação em que alguém dizia que os heróis são os médicos, a GNR, os bombeiros e o INEM. Essas pessoas são muito importantes, mas esqueceram-se de nós, porque também somos essenciais”.

“Os camionistas, neste momento, estão todos a trabalhar e acho que são todos precisos, porque se alguém parar a dificuldade vai ser acrescida”, conclui.

 


Reportagem | Luís Miguel Nogueira